Em “O otimista racional” Matt Ridley percorre milênios e navega por muitos dados otimistas em relação ao mundo e progresso. Em seu livro, apresenta uma visão positiva de mundo, através de uma proposta racionalmente embasada em estatísticas e análises históricas.
Embora vivemos tempos de desânimos e crises econômicas, temos muitos motivos para acreditar que o mundo tenderá ao progresso e prosperidade. É claro que temos desafios imensos enquanto sociedade, como: água, energia, combustíveis fósseis, carbono e a fome. Contudo, nos últimos 10 mil anos o homem vem percorrendo um caminho de grande prosperidade e progresso. Desde nossos primórdios com o escambo, depois o comércio e o avanço econômico, estamos gerando novas tecnologias, solucionando inúmeros desafios e crescendo a cada século.
Aproximadamente há 10 mil anos atrás aconteceu uma importante mudança: a revolução agrícola. O homem saiu das florestas, de sua função de caçador-coletor, para cultivar a terra. O cultivo dos grãos, principalmente o trigo, foi sua principal ocupação e fonte de calorias. Como o cultivo de trigo é muito custoso, o homem mudou seus hábitos, deixou a vida nômade, fixou moradia, passou a administrar a terra e dar manutenção a suas plantações diariamente. Esse trabalho intenso deu seus frutos, alimentou mais pessoas e com isso, veio o crescimento populacional.
Gradativamente o cultivo foi crescendo e depois de alimentada sua família, reservado grãos para o inverno, o excedente era trocado por gado, roupas e qualquer item de interesse.
Temos nessa dinâmica o escambo, processo onde duas partes trocam coisas diferentes e que lhes serão úteis agora ou no futuro. Com o florescer das comunidades, mais pessoas passaram produzir coisas diferentes, dando possibilidades a especialização. Alguém era muito bom em fazer botas de couro, e então fazia somente botas de couro o ano todo. Do outro lado alguém cultivava com muito sucesso trigo, mas não tinha tempo e nem conhecimentos para fazer botas de couro. Uma vez que o produtor de trigo tinha interesse em botas de couro e o fabricante de botas tinha interesse em trigo, os dois podiam comerciar. Através dessas dinâmicas fomos evoluindo enquanto sociedade, e na busca por melhores retornos e condições, passamos a criar novas soluções, compartilhar ideias e gerar progresso. Em um ritmo crescente, passamos do comércio local para o comércio transoceânico, criamos barcos, cruzamos a rota da seda e inovamos com um mercado global de troca. O progresso da troca culminou na moeda e por sua vez no conceito de dinheiro.
Em todas essas fases o homem inovou. Desde a criação do machado de pedra, do arco e flecha, do machado de metal, do tecido, embarcações, inovações matemáticas, progressos científicos, curas e descobertas da medicina, essas e outras milhões de inovações foram abrindo novas fronteiras, ampliando a consciência humana e projetando o homem à frente.
Com uma visão macro podemos ver que a troca de ideias e o poder cumulativo do conhecimento proporcionou saltos enormes ao homem. O autor chama isso de cérebro coletivo, nossa habilidade social de criar conhecimento, troca e progresso a partir da especialização e do diálogo. O homem passou a contar com outro homem e juntos eles eram muito mais do que enquanto indivíduo. Essa expressão ganhou forma e grande impacto com milhões de indivíduos, com milhões de saberes, todos em constante troca e mutação. O valor do cérebro coletivo é sua capacidade de crescer exponencialmente; quando novas pessoas aprendem novas habilidades, elas não só adquirem novas habilidades, como transformam o saber que lhe foi passado. Nessa propagação de ideias os conhecimentos vão se ampliando e enriquecendo. Em um mundo amplo e conectado, vamos com ainda mais intensidade nessa direção.
Mas por que deveríamos ser otimistas? Principalmente porque temos dados para basear essa visão. O mundo vem melhorando de várias formas. A mortalidade infantil caiu, a poliomielite foi basicamente erradicada, a expectativa de vida vem crescendo a cada século, a agricultura cresceu e produziu abundantemente, passando longe da previsão malthusiana de escassez, miséria e morte generalizada da espécie humana devido ao crescimento populacional.
A tecnologia diminuiu as fronteiras, a internet democratizou a informação, as descobertas científicas da medicina trouxeram mais saúde e mais anos de vida, muitos países miseráveis saíram da miséria e da fome absoluta, as mulheres ganharam voz, poder de voto e decisão, as minorias conquistaram espaço e voz na sociedade.
O progresso e prosperidade fica evidente quando enxergamos o mundo pelas lentes macro, e por um viés racional e positivo. Se olharmos para a história muito de perto, é claro que vamos encontrar terríveis episódios, mas quando olhamos a linha do tempo em espaços maiores, vemos uma redução de homicídios, de doenças por água contaminada e muito mais.
Nenhum rei teve a abundância, opções e confortos que um cidadão médio hoje tem. Água, moradia, televisão, energia elétrica, seguro saúde, carro próprio e muito mais. Algo inimaginável a algumas décadas atrás.
Embora a sociedade tenha enfrentado vários altos e baixos, várias guerras e os atuais períodos de paz, nós prosperamos como espécie.
Temos a capacidade de mudar, de romper paradigmas, criar novos contextos e vidas abundantes. O futuro pode ser melhor do que imaginamos.
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